Doki-Doki! 4 - Odiamos Pessimismo!
[link—standalone]Seguindo o padrão de Doki-Dokis temáticos, esse episódio foi sobre pessimismo — que por aqui chamamos de COPE!
Dessa vez eu só comentei três livros, mas o motivo é justo. O terceiro deles, The Idea of Decline in Western History, é um dos melhores livros de não-ficção que já li. Existe uma certa ideia de que quanto mais você conhece, mais pessimista fica, mas essa visão foi, para mim, completamente refutada pela história dos últimos séculos, coisa que o autor, Arthur Herman, disseca lentamente ao longo de 500 páginas, fora as referências.
Quando se demonstra alguma forma de otimismo, ou quando se diminui as coisas ruins acontecendo, a resposta imediata é considerar a pessoa ingênua, mas definitivamente não é o caso comigo. Os dois primeiros livros falam exatamente da parte complicada da modernidade. Vida na Sarjeta, de Theodore Dalrymple (no original Life at the Bottom).
Sobre o sentimento de nostalgia por um período pré-industrial, algo que está na moda recentemente e que lembra o caso Luigi Mangione, eu comentei Capitalism and the Historians, de Hayek e outros, mostrando de onde surgiram as ideias anti-industriais e qual era a visão das pessoas da época sobre isso.
De certa forma, o episódio é sobre realismo, e não necessariamente contra pessimismo, mas particularmente, eu prefiro pessoas ingênuas a pessoas cínicas, ainda que otimismo ingênuo seja tão ruim quanto pessimismo pelo pessimismo. Cinismo corrói a alma, e não é porque eu sou contra cinismo que eu sou ingênuo, coisa que tentei provar com o livro do Dalrymple.
- Life at the Bottom (Theodore Dalrymple):
- Capitalism and the Historians (Friedrich Hayek e outros):
- The Idea of Decline in Western History (Arthur Herman):
O livro é dividido em duas partes, uma com ensaios e colunas mais anedóticas de casos específicos, variando de padrões de comportamento dentre pacientes da classe social mais baixa até o efeito de arquitetura, imigração de pessoas de culturas muito diferentes, a relação de pessoas das classes baixas com religião e tantos outros. Dalrymple é claramente uma pessoa erudita, e suas teorias para explicar as suas próprias observações são bem elaboradas e frequentemente interessantes. Não acho que ele acerta sempre, algumas coisas envelheceram relativamente mal, mas até quando ele erra consegue ser interessante de alguma forma.
Esse provavelmente é o livro mais técnico dos três, entrando em detalhes em autores de história estudados na primeira metade do século XX e em como surgiu a visão distorcida de como era o mundo industrial em seu começo e como aconteceu a romantização da era pré-industrial. Como todos os autores são letrados em economia, conseguem explicar a influência de alguns fenômenos como regulamentação de moradias sobre a qualidade de vida e mostram que, no mínimo, as coisas não são tão simples como a resposta automática de "indústria piorou a qualidade de vida" sugere. O exemplo óbvio de subida de qualidade de vida é o fato de milhões de crianças não terem morrido na infância e terem chegado à vida adulta, permitindo um boom populacional, mas ainda vai muito mais além. Como Hayek diz em A Arrogância Fatal, "tradição é, em alguns aspectos, mais sábia que ou superior à razão humana".
Essa obra-prima visita um conceito intelectual que todo mundo reconhece mas, até onde eu saiba, nunca foi descrito formalmente: a decadência. Herman escreve muito bem e traça as origens ainda no mundo antigo, mas foca principalmente nas influências modernas — da Revolução Francesa para cá. O melhor desse livro é que conseguimos ver que tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita modernas têm raízes parecidas, ao ponto de serem influenciadas pelas mesmas figuras. Todo o pessimismo racial (que nos anos 30 podia ser por causa de judeus na Alemanha ou negros, italianos e eslavos nos EUA mas hoje é direcionado a brancos), todo o pessimismo ambientalista, e todo pessimismo social ou político bebe das mesmas ideologias pregando final de ciclo, ainda que estejamos nesse final de ciclo há coisa de três séculos. É um livro principalmente tratando de história das ideias, e por 90% de seu conteúdo não há opinião do autor, apenas para ela ser colocada na conclusão.
Obviamente, o livro que mais sugiro aqui é o de Herman, mas o de Dalrymple também é um bom contraponto para mantermos o pé na realidade ao mesmo tempo que pensamos na melhora futura. Já Capitalism and the Historians eu sugiro para pessoas mais voltadas ou ao estudo de história do pensamento econômico ou de história do século XIX, por ser algo mais específico.
Até a próxima, amigos.