Inauguração do clubinho! Seremos amigos e nada de ruim vai acontecer! Temos garotinhas de anime e músicas fofinhas para todos.
A maioria dos livros que li esse ano foram de alguma forma relacionados a política, o que é meio triste por um lado, mas não lembro de ter lido nenhum livro realmente ruim. Não deu para discutir todos no episódio, mas foquei nos que davam pra falar mais coisa.
Vários dos lidos eram críticas razoáveis a democracia, eu estou tentando mostrar que ser antidemocrático não quer dizer que você é um fascista esquisitão Nova Resistência, e acho que existem vários ângulos para criticar algo que, no fundo, é só um sistema político e é cheio de problemas. Desmistificar a democracia é absolutamente necessário.
Mas teve muita coisa de vários temas diferentes. Sem mais delongas, os livros discutidos no primeiro episódio foram estes. Ao fim desse post vou deixar o episódio:
- Based on a True Story (Norm Macdonald):
- Cântico* (Ayn Rand):
- O Manifesto Romântico* (Ayn Rand):
- I'm With the Band (Pamela des Barres):
- Bengal Nights (Mircea Eliade):
- Uma Outra Juventude (Mircea Eliade):
- The New Right (Michael Malice):
- The White Pill (Michael Malice):
- The Machiavellians (James Burnham):
- O Mito do Eleitor Racional* (Bryan Caplan):
- The Dark Enlightenment (Nick Land):
- A Mente Parasita* (Gad Saad):
- A Mente Moralista* (Jonathan Haidt):
- A Estrutura das Revoluções Científicas* (Thomas Kuhn):
- Against Method (Paul Feyerabend): ou Contra o Método, se acharem em algum sebo
- Studies on the Abuse and Decline of Reason (Friedrich Hayek):
Toda vez que falo desse livro para as pessoas, descrevo como realismo russo para quem tem preguiça de ler realismo russo, e não estou fazendo exagero. É um livro curto e que trata de questões profundamente existenciais. Praticamente uma introdução a Crime e Castigo;
Esse livro é bem curto, lembra um pouco A Revolução dos Bichos em ritmo de narrativa, e é uma distopia do futuro em que individualidade não existe — o conceito de "eu" não existe. Talvez o formato ideal seja em quadrinhos;
Rand fala sobre estética nesse livro, se descreve como romântico-realista, e argumenta que uma obra de arte é uma recriação da realidade de acordo com os valores. Eu gosto de boa parte do que ela fala, mas o livro é meio assimétrico. Ainda assim, algumas observações que ela faz me parecem tão claras quanto a água e absolutamente verdadeiras;
Esse livro é sobre groupies. Apesar dos temas tratados aqui não serem nem um pouco infantis, é escrito de uma maneira meio irritantemente adolescente, mas... é um livro muito interessante. É cheio de "apesares": apesar de ser um livro de histórias muito degradantes, eu saí com uma opinião mais positiva sobre a cultura groupie do que quando entrei, apesar de ter várias tragédias, não acho que é uma história fundamentalmente negativa, apesar de a autora ser uma das mais "limpas" do meio, ainda é um livro sujo. Existe algo a se admirar em groupies tradicionais, completamente diferentes das gostosas-de-Instagram que não se expõem a nada;
Primeiro romance do Mircea Eliade que eu li, e esperava algo completamente diferente especialmente saindo dos livros técnicos de história da religião. É baseado em uma história real que aconteceu com ele não muitos anos antes do lançamento do livro (1933): ele se apaixonou por uma indiana de uma família ortodoxa tradicional que não permitiria nunca o relacionamento dos dois. Não deu certo. Eliade sendo jovem...
Esse livro foi mais parecido com o que eu esperava do Eliade, e foi escrito quando ele era bem mais velho. A história é surreal, tem referências a alquimia, religiões obscuras, conhecimento proibido e uma camada de realidade abaixo de todo o comportamento humano. Talvez valha a pena levar um relâmpago na cabeça;
Li esse livro quando coincidentemente estava intrigado com nuances dentro de discurso político, e eu não podia ter escolhido algo melhor para esse tema. Malice tem experiência na vida real com essas pessoas, vivência nos meios de internet e bagagem filosófica para explorar ideias marginais conforme nos guia Inferno abaixo, como Virgílio;
Esse livro é extremamente pesado, mas no fundo é sobre esperança. Conta a história da ascensão e queda da União Soviética, dá detalhes excruciantes de torturas e da falta de humanidade que foram trazidos por ideologia, mas principalmente traz como esses monstros foram derrotados. A ideia era mostrar que não é ingenuidade acreditar na vitória do bem sobre o mal, e o livro termina em uma nota triunfante;
Leitura essencial para qualquer pessoa que goste de teoria política, porque ele fala do que funciona, independentemente de ideologia. Como pessoas conseguem tomar o poder? Burnham nesse livro não tem interesse em defender nenhuma ideologia, é completamente amoral, e disseca dois tipos de visão: política como desejo e política como realidade. Os autores maquiavélicos são todos da escola italiana de elitismo, e todos antidemocráticos. Suas ideias podem ser aplicadas por pessoas de qualquer ideologia;
Talvez tenha sido o que mais gostei de ler dentre os que tratam democracia. Caplan não tem uma opinião muito positiva do eleitor médio, que quer opinar mais do que realmente se informar e estudar — o que faz total sentido, e Caplan admite. Mas ele mostra por que isso acontece e por que a democracia intrinsecamente sempre vai dar resultados subótimos, para dizer o mínimo. Curiosamente, ele partilha visão de alguns dos autores mencionados por Burnham, que não é citado no livro;
Livro curto e assimétrico em qualidade, literalmente. Começa excelente e termina desinteressante. Land se tornou persona non grata na academia depois desse livro, que explica as origens, justifica e defende o que ele chamou de iluminismo das trevas, que é uma resposta à fé iluminista em progresso. É mais um livro fundamentalmente antidemocrático;
Saad é um professor universitário, então já podemos garantir que vão existir problemas. Enquanto um ataque a ideologias parasíticas (feminismo, pós-modernismo e outras), é muito bom e extremamente razoável. O problema é que ele segue tendo fé nas instituições apesar de tudo, ele toca em questões que são problemas fundamentais da democracia, mas não ousa questioná-la;
Sobre psicologia aplicada à política, é outro livro extremamente assimétrico, com o começo sendo um dos mais interessantes e melhores que já li sobre psicologia moral e termina sendo uma análise extremamente básica de política. Vale a pena ser lido em paralelo com o do Bryan Caplan, que corrige todos os erros que esse tem na terceira (de três) parte(s);
Livro muito interessante que fala de como a visão boomer de ciência evoluindo através de acréscimos infinitesimais é absolutamente falsa. Meio verborrágico e de leitura um pouco densa, mas vale a pena. O que mais incomoda é a fé no bom senso da comunidade científica, que seria a responsável por definir o que seriam os paradigmas científicos válidos;
O melhor livro de filosofia da ciência que já li, ele questiona, como o título diz, qualquer método científico de regras rígidas. Ele usa evidências histórias e provas lógicas para mostrar que o método científico não é científico e que, se dependêssemos das comunidades científicas como Kuhn gostaria, não existiriam avanços científicos nunca. O herói do livro é Galileu Galilei;
Trata o problema de método científico aplicado às ciências sociais e morais. Vale a pena para brasileiros interessados no assunto porque na terceira parte ele traça as origens do pensamento cientificista e mecanicista para o socialismo francês e o positivismo, que teve influência forte no Brasil (vejam nossa bandeira). As duas primeiras partes são mais técnicas e a quarta e última é sobre Hegel e Comte.
* Eu li esses livros em inglês, não sei comentar as traduções linkadas em específico.
Eu não fazia ideia de que livros eram tão caros.
Ainda não sei quais serão os livros a serem lidos em 2024 nem quando será o próximo Doki Doki!