Misoginia botafoguense

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O botafoguense está condicionado a ser incel, está no nosso DNA esportivo, particularmente se você nasceu nos anos 90 e viu uma tal de Ana Patrícia Oliveira...? Ou era Ana Paula? Lembrei — Ana Put... deixa pra lá.

Estou me referindo, obviamente, ao jogo de ontem, onde a juíza — e estou me contendo para não tecer uns comentários depreciativos aqui — conseguiu nos privar de dois pontos em um ano que já está sendo ingrato, mas a história é mais velha. Citei a Ana Paula, mas o ano de 2021 mesmo teve um evento desses, ainda que o ocorrido seja uma nota de rodapé na Odisséia do Sísifo Carioca. Katiúscia é nome da bandeirinha que nos testou a paciência contra o Brusque. Até o nome é de vagab... Perdão, estou me perdendo do propósito desse texto.

Como falei, a essência incel está no nosso âmago, nem que seja uma misoginia injustificada, vide ninguém menos que nosso maior ídolo e seu caso amoroso mais famoso. Não que a Elza não parecesse um pé no saco, claro, mas meu barômetro é botafoguense, então não sei se é só o meu Botafogo interno falando sobre uma mulher.

"Ah, mas eu tenho uma namorada!"

Meu amigo, você não entende, você não entende... Isso é apenas um nível superficial. Você, seu espírito, sua essência e o seu Ser, todos seguem sendo incel. Não é escolha sua. Lembre-se: você não escolheu, mas foi escolhido. Não importa se seu casamento é feliz, se você é bem-resolvido ou se é dono de um harém. Apenas abrace sua condição e procure ser feliz com ela, aceite o fardo. Abra a boca, grite "piranha!" com todo o ar de seus pulmões e sinta-se mais leve do que nunca!

Outro dia, provavelmente semanas atrás, vi em uma terrível rede social uma publicação envolvendo a Clarice Lispector, mais especificamente seus (ou, ainda mais especificamente, suas) fãs. É um exemplar perfeito do que estou tentando comunicar, aí mora o que estou falando! Obviamente, senti um asco desprezível acompanhado de um ligeiro gosto de fel na boca, ao pensar nas figuras a quem se referiam com tal publicação. Mas isso não se estendia para a figura da Clarice em si. Por que ela é (lembrando que botafoguenses não morrem, mas viram parte da Estrela Solitária) botafoguense? Sim. Exatamente porque ela é botafoguense e tem a essência do "incelismo", ainda que do incelismo feminino. A maior prova disso é simples: feche os olhos, imagine a figura arquetípica de uma fã de Clarice Lispector. Temos aí uma mulher incel. E a misoginia botafoguense me obriga, por definição, a ser contra. As duas coisas, o Botafogo e o feminino, são incompatíveis. É a relação de Jó, o primeiro dos botafoguenses, com sua esposa. "Amaldiçoa a Deus e morre!"

Mas agora, explicada minha condição existencial, me dê licença. Tenho que ouvir Beth Carvalho.