O centésimo.
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Eu sou um completo vagabundo, aparentemente.
Digo isso porque cheguei em uma marca sinceramente absurda.
Comecei a gravar o KrameriCast dentro do carro da minha mãe em 2020 e em cinco anos coisa para caralho mudou na minha vida. E esse episódio foi uma olhada por cima do ombro para trás, comentando sobre os bastidores de vários episódios e o quanto tudo isso significou para mim.
Agradeço todos que já ouviram algum episódio, dado que não tem motivo algum para ninguém ouvir nada disso. Se o conteúdo for ruim, peço paciência, se for bom, agradeço o elogio e a audiência.
Obrigado. :)
sáb, 21 jun 2025 18:29:58 -0300
KrameriKast Klassic? Sim! Temos Bob Dylan!
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Sim, é verdade... temos um novo KrameriKast Klassic!
A dificuldade de gravar esses episódios é que eles são difíceis de planejar, preparar, etc.. Ao menos os Doki-Doki são de pouca pesquisa, apenas leio o livro e comento, mas os KKKs...
Sendo bem direto, Blood on the Tracks é um álbum extremamente, extremamente delicado. É emocionalmente exaustivo, todo mundo sabe a história da separação. Mas eu quis entrar em detalhes: o que faz Blood on the Tracks ter uma atmosfera tão diferentes? Por que o estilo literário do Dylan mudou tanto? Como ele mudou?
Mas o mais importante é: por que ele ecoa tanto emocionalmente com as pessoas?
Nos últimos tempos, se tornou fashion colocar BotT como o melhor álbum do Dylan. A Rolling Stone, que nos anos 2000 já tinha colocado Highway 61 Revisited e Blonde on Blonde dentre os 10 melhores álbuns de rock da história, em 2020 decidiu que este era o melhor álbum do Dylan, e o único a entrar neste decágono. Não que lista da Rolling Stone signifique alguma coisa, mas a diferença de tom desses dois para o BotT é gritante, e só isso explica para mim essa mudança cultural ao se revisitar obras tão solidificadas pelo tempo.
Eu não considero Blood on the Tracks o melhor álbum do Dylan, ao meu ver estando claramente atrás dos outros dois citados. Mas apesar de o achar superestimado dentro do catálogo do homem, é inquestionavelmente subestimado em contextos gerais. Se as pessoas parassem para ouvir e levar a sério o conteúdo desse álbum, sairiam transformadas.
E é um pouco disso que tento explicar nesse episódio.
Como disse antes, estou bem orgulhoso do resultado, e para ser sincero veio como uma lavagem de alma para mim, uma experiência extremamente pessoal e profunda.
Espero que gostem desse episódio, tinha tempo que não fazia algo que me agradasse tanto.
seg, 26 mai 2025 15:06:39 -0300
Doki-Doki! 5 - Yakuzas, Enxadristras e Existencialistas
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Bem vindo ao episódio dos restos!
Esse episódio de certa forma foi um dos mais preguiçosos porque eu realmente só falei de sobras de 2024. Não sobras no sentido de ninguém querer, mas sobras no sentido de não encaixarem no tema de nenhum outro episódio. Todos foram livros bons, mas não têm muita relação entre si.
Foram eles Confissões de um Yakuza, uma biografia de Bobby Fischer, Endgame, The Loser ou em português O Náufrago e Temor e Tremor. Os dois primeiros são sobre pessoas reais, um yakuza do começo do século XX e o excêntrico Bobby Fischer, possivelmente maior enxadrista da história e terrivelmente peculiar.
- Confessions of a Yakuza (Junichi Saga):
Esse livro é sobre um gângster japonês, mas longe de ser qualquer coisa dramática/romântica. A vida de um yakuza tradicional é extremamente pacata, tranquila e pouco emocionante. Eu fiquei sabendo desse livro através do Bob Dylan, que o referenciou várias vezes no álbum Love and Theft, e entendo perfeitamente por que ele se sentiu atraído pela vida de alguém como Eiji Ichiji, o yakuza em questão. Uma leitura muito interessante que coloca em perspectiva sua própria cultura;
- Endgame: Bobby Fischer's Remarkable Rise and Fall — From America's Brightest Prodigy to the Edge of Madness (Frank Brady):
Bobby Fischer foi o enxadrista mais interessante da história, na minha opinião. As pessoas tendem a exagerar o quanto ele ficou louco no fim da vida por causa de seu antissemitismo, racismo generalizado e paranóias conspiracionistas. Eu não acho que ele era louco, e esse livro mostra que todas as peculiaridades dele vieram de experiências reais. Obviamente ele estava errado em seu antissemitismo e conspirações, mas ele definitivamente não era louco;
- The Loser (Thomas Bernhardt):
Esse livro é muito artisticamente sensível, para pessoas que têm sensibilidade estética. A leitura é muito incomum, como dois grandes momentos de pensamento com você estando dentro da cabeça do protagonista, mas é edificante. Aqui nós acompanhamos a vida ficcional de Glenn Gould e de dois de seus amigos inexistentes. Só sobrou um deles, nosso protagonista, que está indo para o funeral de outro, sendo que Gould foi o primeiro a morrer. É um ambiente bem funéreo, mas de uma beleza dificilmente descritível. Grande livro;
- Temor e Tremor (Soren Kierkegaard):
Eu não gosto muito de comentar livros de filosofia pura, mas Temor e Tremor realmente mexeu comigo. Ainda estou para ler algo do dinamarquês que não fale com minha alma. Aqui nós seguimos a jornada de um dos heróis de Kierkegaard, Abraão, e vemos como o indivíduo se impõe sobre a massa. Seria extremamente ler esse livro e A Era Presente depois de A Rebelião das Massas, de Ortega y Gasset, que já foi comentado por aqui.
Meu favorito aqui foi o de Kierkegaard, mas todos agregaram de alguma forma. Se você gostar de biografias, sugiro bastante a do Bobby Fischer, e se tiver interesse em cultura japonesa, os livros do Saga talvez sejam excelentes. Pelo que sei de sua carreira, ele escreve memórias de pacientes mais velhos depois de gravá-las falando. Vale a pena. Bernhardt pode ser complicado de ler, mas vale a pena nem que seja puramente pela qualidade e sensibilidade estética.
Bem, até a próxima, amigos.
ter, 07 jan 2025 09:20:28 -0300